Texto e foto: Ãlvaro Perazzoli
É com essas paredes que converso todas as noites de tom cinza escuro.
Falo como essa casa se torna tão pequena quando meus amigos vêm me visitar e tão enorme quando estou só. Gosto mesmo quando você chega, pois fica do tamanho ideal.
Quando minha gigantesca cama solteira tem a sua presença, fico por semanas sentindo seu cheiro em cada centÃmetro deste leito.
Espero tanto que chegue. O que mais gosto é de espiar você demarcar seu território com a escova de dentes, com o livro que me deixou para ler, com o CD que não posso deixar de ouvir e com o filme que não posso viver sem ver.
Acho graça, pois parece um cão vadio urinando em tudo que pode.
E nestas noites sem você, nenhuma roupa me aquece e nenhuma coberta me conforta. Trocaria todas essas paredes por um abraço infinito em uma rua qualquer deste centro gélido.
Não tenho muitas coisas nesta casa. Ela é nova e ainda não tive tempo para pensar onde coloco o quê. Tenho uma grande parede e tudo que há nela é um grande relógio redondo.
Desses de pilhas que fazem um tac maior que o tic e incomodam mais do que as buzinas e sirenes dessa cidade maluca. Mas gosto dele, pois é a única coisa que se mexe involuntariamente nesta casa além do meu corpo e da minha mente.
Acreditar que o relógio está vivo faz com que sinta-me viva. Os dias, as horas, os minutos passam como se fossem segundos.
Janelas, portas, maçanetas, fechaduras, lâmpadas, pisos, torneiras, azulejos e abelhas. Elas entram por uma fresta secreta para dizerem que estão desesperadamente procurando uma flor que as façam produzir mel.
Às vezes subo e desço o elevador na esperança que o raro bom dia e boa noite se tornem em um café e uma janta.
Faço amigos na lavanderia e inimigos no domingo. Acordo cedo com vontade de viver e durmo tarde com medo de morrer.

