Casa Vazia

Postado no dia: 4 de June de 2014 por Ãlvaro Perazzoli em Arte, Crônicas do Cotidiano, Poemas

Texto e foto: Ãlvaro Perazzoli

É com essas paredes que converso todas as noites de tom cinza escuro.

Falo como essa casa se torna tão pequena quando meus amigos vêm me visitar e tão enorme quando estou só. Gosto mesmo quando você chega, pois fica do tamanho ideal.

Quando minha gigantesca cama solteira tem a sua presença, fico por semanas sentindo seu cheiro em cada centímetro deste leito.

Espero tanto que chegue. O que mais gosto é de espiar você demarcar seu território com a escova de dentes, com o livro que me deixou para ler, com o CD que não posso deixar de ouvir e com o filme que não posso viver sem ver.

Acho graça, pois parece um cão vadio urinando em tudo que pode.

E nestas noites sem você, nenhuma roupa me aquece e nenhuma coberta me conforta. Trocaria todas essas paredes por um abraço infinito em uma rua qualquer deste centro gélido.

Não tenho muitas coisas nesta casa. Ela é nova e ainda não tive tempo para pensar onde coloco o quê. Tenho uma grande parede e tudo que há nela é um grande relógio redondo.

Desses de pilhas que fazem um tac maior que o tic e incomodam mais do que as buzinas e sirenes dessa cidade maluca. Mas gosto dele, pois é a única coisa que se mexe involuntariamente nesta casa além do meu corpo e da minha mente.

Acreditar que o relógio está vivo faz com que sinta-me viva. Os dias, as horas, os minutos passam como se fossem segundos.

Janelas, portas, maçanetas, fechaduras, lâmpadas, pisos, torneiras, azulejos e abelhas. Elas entram por uma fresta secreta para dizerem que estão desesperadamente procurando uma flor que as façam produzir mel.

Às vezes subo e desço o elevador na esperança que o raro bom dia e boa noite se tornem em um café e uma janta.

Faço amigos na lavanderia e inimigos no domingo. Acordo cedo com vontade de viver e durmo tarde com medo de morrer.

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