A palmada: necessária ou desnecessária?

Postado no dia: 2 de August de 2010 por Rafael De la Torre Oliveira em Colunistas, Informação, Rafael de La Torre Oliveira

Por: Rafael De la Torre Oliveira

Semana passada  foi noticiado e debatido em diversos veículos de informação sobre uma nova Lei que irá, se aprovada, proibir e institucionalizar que de agora em diante bater em criança e adolescente é crime. A questão implica diversas questões sobre o privado e o público dentro da educação de uma pessoa x ou uma pessoa y.

Dentro dos debates que consegui acompanhar, escutei alguns colegas de profissão defendendo e outros contestando a Lei como uma invasão ao privado.

Tendo a concordar com os colegas psicólogos que discordam da aprovação desta lei e explicarei os motivos que me levam a ter está tendência. Em primeiro lugar, uma Lei não vê a condição econômica do sujeito x ou y. A lei tem uma lógica de pensamento geométrico, enquanto a realidade das famílias brasileiras são aritméticos.

Em segundo, e o principal, é o suposto saber que pedagogos e psicólogos em geral fazem sobre a violência contra a criança e o adolescente, pois, levando por esta base de pensamento, a violência gera um trauma, que quando não tem um significado levará o individuo a ter problemas de relação social, assim, aprovando a lei da proibição, seria um bem para a sociedade em geral. Discordo.

Não foram filhos estudados nas melhores escolas e melhores culturas que colocaram fogo em um ‘’índio’’ no Planalto Central? Também, os que espancaram uma ‘’doméstica’’ que estava indo para o trabalho? Que afogaram um estudante de medicina em um trote universitário, e o melhor de todos, não foram uma turma de médicos formados em uma universidade pública que para comemorarem a tamanha ‘’façanha’’ de ter conseguido se formar, o fizeram estourando fogos de artifício pelos corredores de um hospital público com inúmeros pacientes em atendimento?

Uso esses exemplos para apontar que não é a falta ou soma de palmadas que deixará alguém de cometer os maiores absurdos. A realidade é aritmética e não será a falta ou soma de palmadas que definirá do que uma pessoa é capaz. Ressalto que discordo da Lei só no ponto em que o saber psicológico se mostra superior ao que um pai ou uma mãe em suas condições podem passar para a criança, discordo quando o saber entra na família e quer a ensinar a como criar um filho, e concordo com ela que não se deve permitir a violência.

No longa 8mm, do diretor Joel Schumacher, Tom Welles, interpretado por Nicolas Cage, é contratado para descobrir se um filme que mostra uma adolescente sendo espancada e morta é verídico. Na obra, o personagem de Nicolas Cage vai á fundo no submundo da pornografia violenta. No decorrer, o detetive Welles consegue descobrir quem foram os tutores do que se passou com a adolescente. Um, era o magnata já falecido e que foi o homem que quis fazer o filme. Outro, um produtor de filmes de violência e um terceiro um homem comum que mora com a mãe e cuida da mesma de uma família religiosa.

A violência passa por todos no filme, do mais rico até o mais pobre. E o mais marcante no filme é que quando Tom Welles quer ver o rosto do homem que esfaqueia a menina no filme, pois ele sempre usa uma máscara de couro e atende pelo nome de Machine. Após o rosto ser revelado, Tom Welles sempre fica com a mesma dúvida: ‘’ Por quê? Porque fazem isso?’’. Simples.

O magnata fez porque pode, quem não tem mais necessidades ou não passa necessidades tem de inventar necessidades(botar fogo em um índio?). O produtor de filmes faz por fetiche e um modo de ganhar dinheiro. Machine dá a resposta mais clara para o detetive Welles, após o detetive ver a face de Machine e perceber que ele é apenas um homem comum, daqueles que você sempre vê no ponto de ônibus ou lendo um jornal na praça. A resposta é: ‘’ O que esperava ver? Um monstro? Eu tenho trabalho, tenho uma boa casa. Cuido de minha mãe, não fui espancado e nunca sofri nenhum trauma na vida. Mas a realidade é que gosto de matar.’’.

Nenhum saber psicológico dará conta da realidade. A violência é apenas uma parcela da realidade, a violência é aritmética e não geométrica, como as Leis.

Ao fim e ao cabo, de toda a violência, a palmada é a única que é visível. E só.

Imagens: Retirada dos Blogs: Mosaico Cultural e Fato e Ato

  1. Vaneska Donato says:

    Parabéns pelo texto, tão delicada a questão principalmente quando a palmada está relacionada ao “educar”. Particularmente também sou contra a lei, por justamente invadir a questão privada, já esxistem parametros de proteção ao menor e ao incapaz e isto não impede de crianças serem maltratadas e espancadas.
    Certo, possivelmente não veremos mais “palmadinhas” públicas, mas isto não implicará na extinção da violência contra o menor, as paredes de casa são sempre mais seguras…

  2. Ulisses says:

    Perfeito. Ótimo ponto de vista.
    Buscam equalizar uma sociedade completamente desestruturada colocando os problemas de todas as naturezas “no mesmo saco”. Enquanto isso, um pai que tem, antes de tudo, a necessidade de alimentar e vestir seus filhos, agora não poderá dar uma educação que achar adequada para sua prole porque o Estado não deixa.
    Agora pense bem. É melhor apanhar em casa e talvez ser educado com isso, ou “apanhar” todos os dias da televisão, dos comerciais, dos vícios, etc.?
    No meu ponto de vista, essa é mais uma ferramenta implícita de controle do Estado sobre a sociedade. Ditadura disfarçada.
    O mal da sociedade é o próprio ser humano.

  3. Gabriela Ferraz says:

    Rafa, adorei o tema da coluna. Mas, você sabe que minha ótica acaba recaindo sob o jurídico, mais do que sob o foco psicológico. Independente do questionamento acerca da palmada educativa ou corretiva eu me preocupo com a invasão do Estado na minha esfera particular.

    Em muitos países da Europa, como na Ingletarra por exemplo, é proibida a palmatória na esfera privada, mas cá estamos a falar de Brasil…. Por isso proponho que quando o Brasil parar de se preocupar com suas crianças em situação de risco que vivem nas ruas à mercê de uma atitude estatal, quem sabe ai, neste momento, poderíamos começar a pensar nas condições das crianças já inseridas em contextos de vidas privadas.

    Se o Estado pode controlar quantas palmadas eu entendo serem suficientes para educar meu filho, será que ele pode também determinar quantos beijos eu tenho o direito de dar no meu marido, quanta atenção eu devo dar aos meus pais idosos e quantos filhos eu posso ter ao longo da minha vida fértil?

    Para mim essa lei é a ponta do iceberg e eu tenho medo dos futuros limites que serão impostos ao Estado. Pode ele ou não interferir nas minhas opções? Perderemos o direito à liberdade de escolha?

    Mas, pior do que isso é saber que existem tantas esferas carecendo de leis mais impositivas, como a educação destas mesmas crianças, enquanto nossos parlamentares ainda arranjam tempo para se preocupar com a palmada no bumbum do meu filhote!!!! Coitados… Tão sobrecarregados de trabalho esses pobres trabalhadores brasileiros!

  4. Leonardo says:

    Fala Rafa… mtu bom o texto e concordo contigo…
    O mundo está do lado inverso…
    só gostaria de citar uns versos da Bíblia q bate de frente com essa Lei!

    * Provérbios 13:24: “Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa.â€

    * Provérbios 19:18 : “Corrige teu filho enquanto há esperança, mas não te enfureças até fazê-lo perecer.â€

    * Provérbios 22:15: “A loucura apega-se ao coração da criança; a vara da disciplina afastá-la-á dela.â€

    * Provérbios 23:13-15: “Não poupes ao menino a correção: se tu o castigares com a vara, ele não morrerá, castigando-o com a vara, salvarás sua vida da morada dos mortos. Meu filho, se o teu espírito for sábio, meu coração alegrar-se-á contigo!â€

    Vamos ver agora qual será o próximo capitulo do “nossos políticos”.

    Abs

  5. Olá,
    Estamos muito aquém de assegurar os direitos humanos para todas as nossas crianças. Por isso sou a favor da lei, acho que sua contribuição é válida:

    No Brasil é proibido crianças apanharem.

    Não estamos falando de palmadas educativas, a lei não trata disso. Ninguém vai processar ou proibir os pais de darem uma palmada. A lei é uma excelente prevenção de espancamentos, castigos físicos e sofrimentos desnecessários e prejudiciais para o desenvolvimento infantil. Que acontecem (estão velados) exatamente no privado, no que se tem como: “cada um cuida da sua vida†ou “como cada pai sabe como educar seu filhoâ€.

    Não, é para nenhuma criança no Brasil apanhar.

    Abraços, Alice

  6. Rafael Lott says:

    Alice, pelo jeito acho que não leu atentamente sobre a proposta de lei, pois a proposta é sim punir quem utiliza a “palmada educativa” mesmo que em seu seio familiar, com seus filhos.
    No que diz respeito ao excesso de força ou espancamentos, o texto no Estatuto da Criança e do Adolescente é bem claro.
    Já existem leis punitivas para esses casos, o que falta na verdade é aplicar a lei.

    Em vez de fazerem isso preferem criar uma lei que a meu ver é inútil (já que também não será aplicada e fiscalizada) e ainda fere outra lei que é de esfera maior, que diz respeito à invasão da privacidade que deveria ser garantida a todos os cidadãos (de bem ou não). Além de vir sobrecarregar o legidlativo que já não dá conta nem dos processos atuais.

    Eu acredito na educação “à moda antiga”… sempre fui muito levado na infância e vivia levando umas chineladas. Hoje me considero uma pessoa “normal”, que teve uma boa educação, acesso a boas escolas e principalmente valores adquiridos dentro do meu lar, sem que o Estado dissesse o que meu pai deveria ou não fazer.
    Não tenho traumas e nunca tive raiva de meus pais (nem quando era criança e apanhava) porque todas as vezes que levei um corretivo eu sabia porque estava apanhando e no fundo, mesmo sendo uma criança, eu sabia que eles estavam certos.
    Em alguns casos uma conversa resolve, já em outros…

    Acredito que o mais importante, independente de leis, é não banalizar a violência, seja na rua ou doméstica. A violência sempre esteve presente entre nós desde os primórdios e não será erradicada assim.
    O importante é utilizar como último recurso e com sabedoria.
    Muitas vezes um castigo imposto a um filho é muito mais traumático e menos educativo do que uma palmada.

    Sou a favor da liberdade, sempre… ninguém irá dizer como educar meu filho.
    E se a lei for aprovada eu irei descumpri-la sem o menor pudor, pois num país onde filhos de juízes queimam um índio em praça pública, não são esses juízes que me ensinarão a educar um filho.

    Também acho que só seria cabível esse tipo de discussão a partir do momento em que as crianças de rua, sem lar, tivessem todos os seus problemas sanados. Um absurdo querer “melhorar” a educação de quem tem família e um lar enquanto grande parte das crianças não tem educação alguma e muitas adorariam ter um lar e uma mãe que lhe desse umas palmadas, pois sabemos que depois da palmada vem a carícia.

    Sou contra a lei.
    Rafael Lott.

  7. necessario verificar:)

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