O Rolezinho

Postado no dia: 9 de March de 2014 por Rafael De la Torre Oliveira em Colunistas, Debate, Informação, Jornalismo, Política, Rafael de La Torre Oliveira

Texto: Rafael De la Torre Oliveira
Vídeo: Hiato – Gumme Filmes

Agora vamos falar um pouco sobre o Rolêzinho e as problemáticas (que não significa problema) que o envolvem.

O Prefeito Haddad tem muitas falhas em seu início de Governo. Agora, com estas novas manifestações ele está se portando como um verdadeiro Prefeito Democrático e pensando no Bem Estar Social e Coletivo.

Devemos prestar muita atenção para não sermos seduzidos pelo que a Mídia quer passar e nos fazer pensar que estamos pensando sobre o que não estamos enxergando (já que neste mundo atual de “FakeBooks”, canais de mídias, temos a sensação de ver, e existe um abismo entre o que se vê e o que se enxerga, assim como informação não é sinônimo de comunicação. Paradoxo, não?)

Ao passo que há dois anos, foi realizado uma operação higienista na Cracolândia, este ano, o Prefeito Haddad foi pessoalmente e fez o programa Braços Abertos, enquanto ao mesmo passo, abria discussão sobre o fenômeno do Rolêzinho, sem querer causar polêmica e nem chamando para si como um gênio da sociologia.  Não, está apenas agindo como deve agir um bom prefeito perante um problema que a sociedade e a cidade em que ele administra  fez surgir.

Tanto a Cracolândia, quanto o Rolêzinho, quanto os trotes de universidades públicas banhadas a música alta, drogas e exageros, são fenômenos produzidos pela cidade e pelo sistema econômico que ela está envolvida, e também, a historicidade, onde sempre houve a separação e exclusão social.

Isso são fatos históricos, e isto, define sim nossas opiniões e subjetividades, quer queira o de direita e o de esquerda, ou não, quer queira o anarquista, ou não, quer queira o favelado e o elitista.

E, então, o que ocorre? Não diálogo. Ao defender o shopping, lojistas e possíveis cidadãos que apenas querem ir a estes lugares para um pseudo lazer. Estamos falando em miúdos de consumidores, e não exatamente de cidadania. O Código do Consumidor assume mais importância que a cidadania. E aí quando substituímos o conceito de cidadania para consumidores, ocorrerão alterações em nossos valores (e visão) e no que entendemos do que venha a ser uma sociedade e uma coletividade.

Haddad propõe o contrário. Ele ao notar isto, está tentando criar espaços para que ocorram confluências destes conceitos e que com isso nasça novos valores para a sociedade, no caso, a paulista.

E, então volto a questão da mídia. O que ela mostra? Nenhuma destas ações, e sim, o que querem mostrar e nos fazer pensar que pensamos sobre o pensamento de uma cidadania e de uma idéia do que venha a ser o bem social e convívio social (seja você elitista ou favelado).

Enquanto ocorre uma ação nunca antes vista de humanização, em respeito ao cidadão e também um olhar sobre a problemática das drogas em que está sendo executada com sucesso, sem precisar de internações compulsórias, ou força bruta da polícia para remoção de favelas. A mídia se ocupa em mostrar o Rolêzinho e pegar apenas a opinião de comerciantes e consumidores ‘adultos’, enquanto do outro lado, pegam alguns adolescentes e pedem sua opinião sobre o ‘fenômeno’.

Ora, vejam e percebam o disparate da situação. Em certa medida colocam uma comparação injusta, pois é factual que um adulto terá argumentação mais sólida do que um adolescente em um Rolêzinho, que está se divertindo e curtindo.

Seria como pedir a opinião de um estudante de faculdade pública/privada (festa Rave, Sertanejo, Micareta, Carnaval fora de época e etc) em uma de suas festas e encontros de lazer sobre o que ele pensa sobre este encontro. Outra seria a de um cidadão de fora deste encontro de massa.

Não precisa ser intuitivo para saber o desfecho das opiniões.

Espaços de confluência devem ser criados. Aqui estes espaços ocorriam apenas pela via da violência, em que o favelado assalta o cidadão. (Notaram? Favelados não são nem cidadãos) E agora, a nova onda é o Rolêzinho, onde os favelados entram nos locais de “cidadãos consumidores”.

Então, vamos também olhar para a questão de o shopping ser um local privado. Bem, a Constituição do Brasil já tem um artigo muito específico sobre o conceito transitar. Isto por si só deveria bastar, caso todos fossemos cidadãos, mas, como somos consumidores, vamos para esta vertente mais empobrecida de coletividade.

Ao shopping ser de propriedade privada, ele não pode, então, exigir intervenção do poder público, uma vez que o poder público deve preservar o direito de todos os cidadãos, ficando o consumidor fora desta questão, já que o privado/mercado, não pode regular a cidadania e nem ser acima da Lei Maior do Estado de Direito, no caso, o Brasil.

A pergunta que cabe então é: O que queremos? Ilhas privadas do “faz de compras” e assumir de vez que não queremos compartilhar os nossos espaços com outros cidadãos, ou, como sabido, se informar primeiro onde o Rolêzinho irá ocorrer e simplesmente, não ir ao shopping para não ser importunado.

Afinal, como diria um velho dito, “Os incomodados que se retirem”.

Não é isso que consumidores falam?

  1. Jeannie says:

    O Tribunal de Justiça de São Paulo numa decisão arbitraria e inconstitucional restringiu a realização de um “rolezinho” no mês de fevereiro e, logo após permitiu a realização de um “rolezinho” no parque do Ibirapuera, deixando evidente a “pseudocondescendencia”. Neologismos a parte, a realização de um grande encontro em um dos cartões postais de São Paulo, no coração da zona sul, deixa claro a tentativa de disfarçar o incomodo causado pela ousadia de cidadãos, considerados inferiores, tentando adentrar o espaço reservado a pessoas gabaritadas e aptas a consumir, demostrando que o primeiro a desrespeitar a constituição é o próprio Estado.

  2. Hugo says:

    A ideia de uma população aproveitar a sua sociedade, é algo que vez ou outra é tido como afronta à parte privilegiada desta mesma população. Afinal só porque algo é considerado espaço público, não quer dizer que seja público de fato. Em 1965 Jean Luc Godard lançou seu filme “Alphaville” o qual apesar de seu aspecto futurista e o tom sobressalente o qual utiliza de alegorias realistas-fantásticas fomentadas no conflito entre dominantes X dominados, ilustra e exemplifica o distanciamento e segregação entre classes assim como a hiperestimulação de ferramentas sociais que contraditoriamente intensificam essa “ação nunca antes vista de humanização”. Essa humanização que conceitualmente nunca foi tão abstrata e fria, abre as portas para a perpetuação dessa separação de classes, afinal não permitir que o público utilize de áreas públicas é abrir a porta para o fascismo.

Voc deve se logar para comentar.