Texto e foto: Álvaro Perazzoli
Nas faces menos visíveis da escuridão ela sussurrava no meu caminho, “Abrace-me”. Ligara antes e pedira para que entrasse em sua casa sem fazer barulho. Era um sobrado tipicamente paulistano em um bairro nobre da cidade imunda.
Ela nada mais era que uma grande amiga que acabara de perder os avós em um acidente automotivo. Um caminhão perdeu o controle na estrada e atingiu o carro que estavam. Retornavam de uma viagem pelo interior paulista.
Fazia questão de contar os detalhes, disse-me que sua avó fora decapitada e seu avô foi esmagado da cintura para cima. No necrotério reconheceu o avô do pau para baixo.
Sua dor era intensa, pois foi criada e vivia com eles. A casa que estávamos era deles. Sua mãe vivia no exterior e seu pai a visitava regularmente. Mas ela o recusava. “Ele só me quer enquanto abro as pernas”, contava.
A dor e a angústia me deixam excitado, ver o sofrimento alheio é minha forma de prazer, pois me aproximo mais dos seres humanos e sinto-me um pouco menos animal.
Nunca nos beijamos, nunca trepamos, nunca nem ao menos senti desejo por ela. Era uma garota de pele clara que nunca soube escolher a fragrância certa dos perfumes que usava. Suas roupas nunca combinaram com quem era e nunca refletia o que sentia.
Mas nesse dia ela estava dominada pelo medo e a incerteza pairava em seu olhar. O cheiro do temor me excita mais do que o aroma febril de um dorso feminino no período fértil. Vestia uma delicada camisola, negra como seu futuro e fria como sua jugular.
As luzes do quarto estavam apagadas, eram aproximadamente 19 horas. Havia ainda um resto de luz na rua e as frestas da janela desenhavam linhas desordenadas em seu corpo.
Ela tinha fósforos próximos de algumas velas aromáticas sobre a cômoda. Eliminei a luz furtiva da janela fechando a persiana e acendi as velas. Sua palidez ficou dourada e o azul do meu coração bombeava instinto.
Passeando as mãos pelo seu corpo senti que nada havia sob aquela camisola. Recusei-me tirar minha roupa, que nesse instante estava pesadamente escura como minhas vontades com aquele corpo.
Viajei minha língua por seus pés até sua virilha, lá ancorei minha barba e olhei suas entranhas que oscilavam juntamente com o pulsar das velas.
O cheiro do seu sexo transformou meu lamento e estrangulei nossa amizade com a invasão da sua intimidade com meus dedos sujos.
Ela revirava os olhos, mas não conseguira se livrar da tragédia. Deles uma chuva de lágrimas caía e rapidamente se misturaram com o suor do seu corpo, que nessa hora implorava pelo meu.
Nesse momento não queria fazer sexo com seu sexo, queria fazer sexo com o que lhe restara de vida.
Na cômoda também havia uma navalha, provavelmente do seu avô, aproximei-a de sua doce garganta e com um leve toque rasguei lentamente sua carne. Com a outra mão acariciava violentamente seu clitóris. Quando ela sentiu o sangue escorrer por seus seios, a trindade divina formada pelo sangue, lágrimas e suor fez chegá-la ao clímax.
E quando seus suspiros reduziram a intensidade, ela voltou a sussurrar, “Agora é a sua vez”.
Não hesitei, pressionei com toda força que pude a navalha em sua garganta e a puxei com a máxima rapidez que consegui. O sangue esguichara por todo o quarto.
Na medida que ela se contorcia, o líquido rubro dançava no ar como uma bailarina japonesa de butô. Jamais esqueço a sinfonia da sua vida deixando seu corpo, era similar aos acordes de uma vagina urinando.
Masturbei-me diante daquela cena e vibrava de prazer enquanto a garota se debatia de bruços no centro do quarto.
Quando o chafariz vermelho atingiu sua altura máxima, ejaculei. No ar meu sêmen misturou-se com seu sangue. O possível inicio de uma nova vida encontrou-se rapidamente com a morte de uma adolescente.
Nesse instante senti que aquele espírito escravo deixou a prisão do seu corpo para ser eternamente livre.
Fora a primeira vez que tirei a vida de alguém e a sensação foi exatamente igual à primeira vez que gozei.

