Texto e fotos: Álvaro Perazzoli

(Primeiros esboços, Álvaro Perazzoli, 2014, digital light paint, 20 X 30 cm, acervo pessoal, São Paulo)

Os rabiscos em uma superfície qualquer são as primeiras representações de uma criança para o mundo. São as tentativas primárias da expressão sem o uso da fala, do texto ou gestos.

Esses rabiscos muitas vezes são o máximo de originalidade criativa durante toda a vida da grande maioria dos seres humanos.

O motivo é que a sociedade, a escola e os pais adestrados irão impor que tais criações representem a realidade. Que casas tem que ser como a ideia comum de casas e que tudo de concreto tem que ser como nossos olhos vêem.

E quando essa criança quiser representar o amor, a dor, a raiva, a solidão, a angústia e a tal da felicidade? Ela então será educada que o certo é representar a subjetividade com o realismo e passaremos desde então a negar o abstratismo.

A imaginação, os sonhos e os sentimentos promovem uma profunda conversa interior entre a natureza abstrata e o mundo real. A realidade é uma imposição, a fuga dela é considerada uma fraqueza e a incapacidade de acessá-la é diagnosticada como demência.

(Primeiros esboços nº2, Álvaro Perazzoli, 2014, digital light paint, 20 X 30 cm, acervo pessoal, São Paulo)

Vivemos na época em que as possibilidades artísticas e criativas atingiram um ápice sem precedentes devido os avanços tecnológicos. Ao mesmo tempo é a era que mais carece de originalidade. Vivemos o banal por não conseguirmos nos livrar das imposições sociais e da auto censura.

Não temos gregos, romanos e cristãos ameaçando-nos em como devemos representar o mundo. Temos hoje apenas os nossos medíocres círculos sociais e o temor particular de que nos vejam como loucos e desajustados por não seguirmos os padrões.

Nosso abstrato foi marginalizado em nossa infância, condenado em nossa adolescência e sepultado em nossos dias.

Promovo aqui os primeiros esboços para retornarmos a infância e resgatarmos os primeiros rabiscos.