Texto e fotos por Ãlvaro Perazzoli

A banda norte-americana se reuniu com militantes do MST e Zack de la Rocha afirmou que irá doar parte do cachê ao movimento

A banda vem pela primeira vez ao Brasil com a formação original

No dia 9 de outubro, o Festival SWU (Start With You) que ocorreu na Fazenda Maeda em Itu (SP) teve como atração principal a banda Rage Against the Machine (RATM). O grupo se apresentou pela primeira vez na América do Sul e fez um show que foi marcado pelos insultos a Rede Globo e o tumulto devido a péssima organização do evento.

Zack De la Rocha, Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilk tocaram um repertório com as principais músicas do RATM.

Os fãs do monótono Los Hermanos conflitam com o públicos do RATM

Após uma masturbação sonora do Los Hermanos que o público  foi obrigado a ouvir e uma enérgica performance do The Mars Volta, o Rage Against the Machine iniciou a última apresentação da noite com o hasteamento virtual da estrela vermelha em um telão ao fundo do palco. O símbolo rubro de 5 pontas significa poder nas mãos do povo e é utilizado por grupos de esquerda comunistas e anarquistas.

A estrutura do evento não comportou a explosiva performance do RATM

A energia e o engajamento político da banda trouxe milhares de pessoas ao show.  Na faixa “Wake Up“, o guitarrista Tom Morello vestiu o boné do MST e a TV Globo inexplicavelmente interrompeu as transmissões ao vivo. Durante a música “People of the Sun” que faz uma homenagem aos Zapatistas, Zack dedicou a música ao MST.

“Esse som vai para os corajosos irmãos e irmãs do MST. People of the Sun!”, anuncia o vocalista do Rage Against the Machine.

De acordo com o site do MST, Zack se reuniu com militantes sem terra e declarou que irá doar parte do cachê ao movimento.

A banda texana The Mars Volta também fez um grande show

“O MST tem uma experiência muito importante de solidariedade humana e na criação de espaços fora do modelo capitalista, e é muito importante para muitos de nós que, nos EUA, que estamos lutando pelas mesmas coisas. Eu acho que MST já criou um exemplo maravilhoso de luta por justiça social e econômica, é um grande exemplo para nós”, declarou.

Um outro momento célebre, foi a banda retornar ao palco para o bis ao som do hino comunista russo, A Internacional.

A gigantesca estrutura quase foi abaixo devido devido a falta de planejamento

A precária organização do SWU fez a apresentação ser interrompida por duas vezes. A primeira foi pelo fato da segurança não conseguir conter o público que se espremeu para ver a banda e em dado momento derrubou as grades que separavam a pista premium da pista comum. Fãs foram agredidos e jornalistas ameaçados e empurrados. Um locutor improvisado que mal conseguia se expressar tentou conter o público, Zack tomou o microfone de suas mãos e com uma mistura de portunhol e inglês conseguiu acalmar o público e seguiu o show.

A segunda parada foi devido a várias falhas sonoras.  Morello e Zack se olharam e decidiram tocar a música até o fim apenas com o som do retorno do palco por respeito aos fãs que esperaram mais de 15 anos para ver o grupo no Brasil. A interrupção por pouco não gerou um quebra-quebra diante dos gritos e palavrões contra a organização do SWU.

Bicicletas geram energia para movimentarem uma Roda Gigante

Os jornalistas também ficaram irritados e sofreram com a desorganização e despreparo da equipe. Não foi possível credenciar todos os pedidos e uma gigantesca fila se formou para revezarem a credencial rotativa de acesso ao fosso. Não bastando, a produção tentou impedir que o show fosse fotografado com máquinas profissionais, mesmo que fosse do público pagante.

O fim do primeiro dia do evento foi contraditório ao modelo ambiental pregado pelo SWU. Milhares de copos descartáveis espalhados no chão foram prova que a sustentabilidade na prática não foi cumprida pelo evento. Uma alternativa para isso seria o uso racional de um copo refil pelos consumidores que pagariam menos se o reutilizassem e receberiam algum brinde ou desconto se jogassem em um lixo seletivo.

Proposta ambiental do SWU falhou

Os banheiros foram insuficientes e estavam longe. Um exército de fãs bêbados com a marca de cerveja patrocinadora do SWU expuseram suas genitálias publicamente em diversas moitas e laterais de tendas que serviram de mictório improvisado.

Isso sem contar os preços absurdos. Uma garrafa de água custava R$ 4,00, de cerveja R$ 6,00 e a maioria dos lanches no cardápio não estavam disponíveis e não era permitida a entrada de nenhum alimento, obrigando o público a deixá-lo na entrada. Uma política que geralmente é adotada para que se consuma obrigatoriamente dentro do espaço do festival. Um festival caro por sinal, os ingressos inteiros custavam R$ 240,00 Pista Comum e R$ 640,00 na Pista Premiun.

Gigantescas filas de pessoas e carros no final do 1º dia

O estacionamento variava de R$100,00 para um carro com até 3 pessoas e R$ 50,00 para 4 ou mais. Uma estratégia de transporte ambientalmente interessante, mas infelizmente só na teoria.

Na prática o estacionamento e os ônibus foram um show de desorganização e destruição do meio ambiente. O caos e a falta de pessoas organizando fez com que uma enorme fila de carros se formasse na estreita estrada de terra. Diversos motoristas foram pela grama para cortar caminho destruindo a vegetação e criando diversas novas trilhas e valas. Os ônibus não foram suficientes e os poucos que tinham não conseguiam chegar. Um trajeto de aproximadamente 10 minutos, chegou a durar mais de 2 horas.

A proposta sustentável funcionou só na teoria

“Ir a pé até os ônibus foi a melhor opção. Cheguei às 6h da manhã em casa”, explica o foto jornalista Tiago Silva que mora no ABC.

Outro fator negativo foram os celulares que não funcionavam. Curiosamente o evento era patrocinado por uma operadora de telefonia móvel e nem os aparelhos desta empresa funcionavam na péssima estrutura do local.

“Cheguei às 7h da manhã em casa. Os celulares não funcionavam lá e demoramos três horas para achar nosso amigo”, comenta Ludmila Guimarães que mora no bairro de Santana em SP.

Ingressos extremamente caros para a estrutura e logística oferecidos pelo SWU

A apresentação do RATM foi repleta de gritos dos fãs contra a Rede Globo e a dedicação da banda ao MST provocou uma reação ácida em diversos veículos, como o G1 e R7.

O Rage Against the Machine é contra o capitalismo, se a filosofia do SWU era a mesma da banda, a missão foi cumprida,  pois os patrocinadores do evento tiveram suas imagens manchadas nesse primeiro dia.

  1. Lud_Berzin says:

    Valeu mano! belo texto…

    Para mim o show foi demais por ter visto a banda q mais curto… mas q faltou organização faltou… ainda mais ao ver relatos de q pessoas q estavam de onibus demoraram cerca de 04hs para sair do evento… aguarando no ponto com aprox. 08 graus de temperatura… foda…

    Mas valeu.. parabéns Alv.. pelo texto…

    Ps. adorei o boné do MST… e, antes dos show, eu tinha comentado com o mano q tava comigo, o Marcelo: “Porra mano, bem q o Zack podia entrar com a camiseta do MST…”… saber do boné foi demais… até pq no show nem reparei… rs

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