Por: Rafael De la Torre Oliveira
Tenho como experiência ser mesário e neste ano fui novamente ‘convidado’ para fazer parte e ajudar nas eleições. Aparentemente, pela minha percepção, o fato de ser mesário pouco influencia na vida das pessoas, não se ganha notoriedade sendo mesário, pelo contrário, corre-se o risco de ser vitima de chacotas. Chacotas advindas de quem? Dos mesmos que irão fazer o uso do direito de votar e eleger o próximo candidato que represente os desejos e necessidades pessoais.
O pleito eleitoral está envolto de paternalismo, e o contraditório é que apenas pessoas consideradas adultas podem fazer parte, pois, segundo a Lei, se atinge a maturidade com certa idade biológica. Bem, pelas contribuições da psicanálise, são poucos os casos que a idade biológica acompanha a idade mental, por este prisma, criamos uma imagem de adulto, um ideal.
E o que isto tem a ver com o voto? Sabendo que nossas ações de adulto na verdade são comandadas por fantasias de nossa infância, assim sendo, nossa ‘’adultesa’’ é governada por nossa infância, nota-se como é o processo eleitoral. Primeiro, o pai (Estado) lhe castiga, pois terá de trabalhar em dia de eleição, dia em que o papai não poderá trabalhar. Mas, tem-se um ganho. Poderá o filho que trabalha ter folga o que da a idéia que o esforço valeu, pois teve uma recompensa.
O que se cria com isso? Um eleitorado dominado pelas relações infantis de desejo e interesse, perda para ganho. Trata-se as eleições visando apenas a nossa necessidade e desejo, mas isto já é artimanha antiga das relações de publicidade e marketing. Eles, melhor do que ninguém, sabem que na verdade os adultos, usam trajes de adultos, então enchem as lojas de produtos, pares de sapatos, corpos esculturais, carros, celulares e qual o comportamento? Tendemos a pensar que estabilidade econômica é sinal de gente adulta, e o que consumimos (e fazemos com o nosso corpo) nos diz se atingimos ou não a maturidade. Observe como uma criança se comporta quando quer algo, e se policie em seus movimentos de querer, ficará surpreso com a semelhança no comportamento.
Com o paternalismo permeando as relações, tem-se a idéia de voto que é a seguinte: ‘’ Voto neste, ou naquele?’’. Quando, se atinge uma maturidade adulta, a pergunta seria: ‘’ O que me leva a votar?’’. Nas eleições (e nas demais relações atuais), usa-se um truque muito comum, que todos que já foram pais e mães sabem. É a idéia de falsa escolha. Você diz para a criança: ‘’ Quer mamão ou maçã? ‘’ E a criança escolhe maçã ou mamão, é uma falsa escolha, pois a criança tem apenas estas opções, mas ela pensa que está escolhendo, pois uma responsabilidade está sendo ofertada. Movidos pelas necessidades infantis pensamos que ganhar responsabilidade é o mesmo que conquistar responsabilidade.
A pergunta deveria ser: ‘’ O que você quer?’’. De repente, a criança falaria pastel.
Mas, quem disse que criança sabe o que quer?
Boa sorte nestas eleições, pois sucesso é para adultos.
Imagem: Retirada do Blog: http://camuflados.blogs.sapo.pt



Não quero maçã nem mamão… quero goiaba!
O duro é que com tantos laranjas a tendência é dar abacaxÃ.
Sorte! Realmente iremos precisar…
Muito bom…
Adorei!
Vamos votar em um candidato que represente os desejos e necessidades pessoais…
Tem pastel aÃ?
Muito boa analogia.
Sem mais delongas…
Pé na porta!
Muito bom Rafa! Esta analogia se estende para todas relações sociais em que estamos inseridos. Somos “amestrados” desde a infância. O pior é que pensamos sermos livres para escolher isso ou aquilo! Aliás, será que existe mesmo Democracia? Sabemos bem quem “controla” o mundo: o velho sistema capitalista. Grandes empresas multinacionais e corporações geram a todo instante novas necessidades para os seres humanos. Cria-se a ilusão de avanço tecnológico e progresso. O consumismo impera e desde a infância somos bombardeados com falsas necessidades: crescemos e estudamos para a sociedade de consumo prosperar. Tudo se resume em sermos aptos ou não para o “front capitalista”. Se você não escolhe mamão ou maça será renegado e excluÃdo do sistema! Eles dizem: Bananas para os subversivos! Nós dizemos: Preferimos as bananas!