Texto: Ãlvaro Perazzoli
Imagem: Ordem do Dragão Vermelho

Quando pequeno, nutri um certo fascínio por vampiros. Influenciado pelo que lia e assistia na TV, frequentemente me viam durante a noite com capas feitas com a pele de guarda-chuvas velhos. Tinha 11 anos.

De forma alguma queria ser aquele super-herói fascista fantasiado de morcego. Queria incorporar as trevas, sentir a solidão da vida eterna e ter o charme que nenhum ser humano do sexo masculino sonhou em ter perante as mulheres.

Eu lia Gênesis e amava o Apocalipse. Minha benção seria receber a maldição de Caim para ser a nova besta que afrontaria os homens nos dias atuais.

Nos meus 16 anos comecei a tornar-me o ser que tanto venerei. Caminhava somente à noite. Acreditava que assim teria a vida eterna e seria uma criatura invencível atormentada pela existência de Deus.

Então veio a primeira garota que despiu-se exclusivamente para mim. Sua pele era lisa, seu corpo frágil e sua face implorava a posse. Seios, vagina, lábios, olhos e jugulares.

Era o quarto de seus pais. Ela revelou que não gostava da claridade. Descobri então que era mais poderoso quando as luzes eram silenciadas.

Virei ela de bruços e afastei seu olhar desconfiado. Sua razão poderia tornar seu instinto repressor em função ao extremo medo que poderia causar-lhe se fracassasse na surpresa.

Agora podia dançar com meu punhal aterradoramente afiado junto aquele corpo nu.

Da sua nuca desci vagarosamente a lâmina fria e no relance senti seu corpo estremecer na medida que me aproximava de seu ânus. Lá repousei a ponta da lâmina e ameacei dilacerá-la em sua intimidade.

Imóvel e já ciente do poder que eu havia conquistado naquele momento, ela agarrava os lençóis sedosos com toda a força que podia. Estava muda, mas movia sua cabeça, de pavor e prazer.

Voltei a dançar com meu punhal, agora fazia o caminho inverso. Quando cheguei ao centro de sua coluna, virei ela mais uma vez.

Olhava-me nos olhos. Era como se implorasse por aquilo e queria ficar o mais próxima da morte possível.

Circundei cada um de seus seios com a lâmina. Com uma das suas mãos ela tocava seu sexo e soltava gemidos cada vez mais altos na medida em que eu pressionava o metal frio em sua carne macia.

Uma pequena gota de sangue escorreu de seu seio esquerdo. O correr daquele líquido vermelho marcava aquele corpo branco como lava vulcânica em uma geleira.

Saboreei seu sangue acidental com um leve passeio da minha língua naquela longa nascente rubra. Era adocicado e quente.

Meu punhal agora invadia seu umbigo. Girei a ponta do metal e seus olhos se ampliaram. Ela perdeu completamente a reação e sua masturbação tornou-se mais forte e meus movimentos mais cautelosos.

Caminhava agora a lâmina em direção a seu clitóris. A aproximação deixou-a mais ofegante e ela debateu-se ao atingir um intenso e profundo orgasmo.

De olhos fechados sorriu extasiada.

Quando os abriu, minha lâmina estava em sua jugular juntamente com minha face que se deliciava em sentir sua respiração mais intensa e quente.

Sua mão direita estava aterrada no colchão, a sua esquerda balançava no ar como se pedisse socorro para o além.

Pressionei mais o punhal em seu pescoço. Seu corpo que segundos atrás estava amolecido tornou-se duro como uma rocha.

O silêncio da pré-morte fazia-me ouvir as batidas de seu coração e os ossos de seus dedos dos pés esticarem na medida que contorcia as pernas.

Naquele instante senti que a amava incondicionalmente. Meus punhos foram perdendo forças e meus olhos apagavam lentamente as chamas do sadismo nefasto.

Ela olhava-me com um tom repressor. Sua mão direita voltara a ter vida e ela segurou meu punho. Pressionou-o com força e o trouxe novamente para perto de seu pescoço.

Fechou os olhos me dando adeus e sorriu me dando a permissão.

Rasguei lentamente a carne que recobre a jugular e aproximei meus lábios no seu pescoço. Puxei lentamente a lâmina e ouvi pela primeira vez o estalo de uma artéria dilacerada.

Imediatamente deixei que o seu líquido vital preenchesse toda a minha boca. Olhava-a com o canto do olho e lentamente observei-a empalidecer, reduzir a respiração e diminuir seus batimentos cardíacos.

Amei-a até a última gota de sangue que seu corpo pode me dar.

Dai-me prazer que darei a eternidade. Tornei-me neste dia o descendente do errante Caim e inimigo dos que caminham na sombra de Jeová.

-Oh grande ser punidor das almas perdidas, tornei-me o degolador das trevas ou o porta voz dos sonhos e desejos que povoam a mais escura ala do inferno?

-Oh Senhor! Meu punhal recoberto por sangue é o instrumento de um assassino em série ou um pincel que acabara de ser usado em uma obra de arte sublime?

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