Sexo & Tragédia – III – O outro lado do muro

Postado no dia: 10 de March de 2014 por Álvaro Perazzoli em Arte, Contracultura, Gonzo, Literatura, Poesia Maldita, Sexo & Tragédia

Texto: Álvaro Perazzoli
Imagem: Oitenta “tijolinhos” – Obra produzida por menores da favela carioca

As flores na janela da minha vizinha era o sinal que ela queria dar. Descobri bem cedo que na casa ao lado morava uma mulher sádica, perversa e depravada. Eu tinha apenas oito anos, e só não tinha descoberto antes, pois somente nessa idade atingi a altura necessária para olhar por cima do muro.

Já tinha perdido minha inocência na igreja. E não tinha sido um padre que me currou, mas a própria filha do pastor que me chupou. Era quatro anos mais velha e frequentemente me abusava. Tocava no meu pau, me obrigava a vê-la urinar e gostava que eu a beijasse juntamente com suas amigas mais novas. Gostava de beijar de língua após engolir uma colherada de açúcar. Tamanho foi meu espanto quando ela fez uma grande fila e beijou outras garotas e garotos na minha frente.

Anos mais tarde os psicólogos disseram que isso desencadeou um trauma. Não me arrependo, fazia questão e até deixava o dever de casa para ir todos os dias na igreja receber a benção divina.

Nessa idade já sabia muito bem o que era uma foda. Não tinha propriamente fodido, mas tinha achado pedaços de uma revista de fotonovela pornô, para um garoto de oito anos isso era quase a mesma coisa.

Nessa revista havia uma caralho imenso enterrado no cu de uma loira que se expressava através de um balão de diálogo, “Romildinho, acabe com todas as minhas pregas”.

Mas isso era um mero conto infantil perto das coisas que ouvia e via do muro da minha casa. Margareth tinha nome de puta e era uma puta, não das que cobram, mas das que representam o sentido jocoso da palavra. Dona Magá era uma mulher que sentia prazer em dar para outros homens sem o conhecimento do seu marido.

O esposo, Seu Antônio ou “Toninho”, aos meus olhos e aos da vizinhança era de um bom homem. Tinha uns 10 anos a mais que ela e trabalhava como despachante.  Carro do ano, casa sempre pintada, antena parabólica, tinham um padrão de vida até que razoável para o bairro imundo que residíamos. Raramente ouvia-se briga naquela casa e sempre iam juntos para igreja como um casal socialmente ideal.

Mas era só Toninho ir trabalhar que os cachorros começavam a latir. Dona Magá colocava um vaso de flores horrendo na janela, ligava a rádio no programa do Paulo Lopes e ia varrer o quintal com vestidos tenebrosamente coloridos e terrivelmente justos. Ainda hoje quando ouço o refrão de “Paulo Lopes, o amigão das mulheres” recordo-me daquele rabo florido imenso sorrindo para o céu e bailando com uma vassoura.

Quando as flores estavam na janela, Seu Moacir, vizinho da rua de cima entrava às dez da manhã. Após o almoço era Pedrinho, eletricista do bairro. Uma vez vi até o meu avô entrar.

Próximo às quatro da tarde era hora do chá e sempre vinham mulheres com crianças que eu não conhecia. E lá ficavam até Seu Toninho chegar. Esse era o álibi da meretriz, dizia ao marido que passara o dia todo com as visitas para justificar o motivo de não arrumar a casa e preparar o jantar.

Além de dona de casa ela lecionava em uma escola dominical. Fui um de seus alunos na igreja que ficava em nossa rua. Ela nos dava bombos em domingos aleatórios. Quando se abaixava, eu conseguia ver pelo comportado decote evangélico a estrada de seus dois Montes Sião. Seus seios eram fartos e quando Adão deixava Eva no paraíso para ir à igreja com seu pau duro em forma de serpente ela vinha sem sutiã e com uma calcinha de renda atolada no cu.

Eu olhava tanto a saia bege daquela vagabunda cristã que quando ficava de costas eu traçava um perfil completo do seu humor. A intensidade do atolamento da sua calcinha no rabo revelava como seria a aula e se no fim do dia ganharíamos bombons.

Certa vez ela se abaixou para ler comigo uma frase. Nesse instante movi propositalmente para o lado de modo que minha orelha esquerda tocasse seus suculentos peitos. Por alguns miseráveis segundos senti suas tetas macias, me esfreguei em seus mamilos pontudos e saboreie seu cheiro de mulher madura do bairro. Tinha aroma de carmim com um toque de cravo e cinco litros de porra.

Descobri o que Dona Magá fazia com os homens da vila por um acaso. Brincava no muro com um carrinho da Estrela que furtei de algum garoto mais afortunado que eu. Ouvi um homem gritar e uma mulher gemer. Por cima do muro pude ver Dona Magá cavalgando no pau do Pedrinho com um tubo preto de desodorante Axe enfiado no cu. Não bastando, ela colocou um espelho de chão atrás da cama para ver o objeto bizarro e a rola dançarem em suas duas cavidades.

Nunca meu pau tinha ficado tão duro e tampouco tinha visto uma cena tão grotesca. Saí correndo para a cozinha e fiquei com uma enorme vontade de mexer no caralho que chegava a doer de tão rígido que estava. Voltei para o muro minutos depois, e lá estava aquela vizinha morena vagabunda com seus estonteantes cabelos longos. Agora estava de quatro sendo penetrada e espancada com violência.

Após esse incidente passei a decorar os horários. Cheguei até a perder aula e faltar em dias de provas só para ver meu show de sexo ao vivo. Nessa época acho que surgiu meu estranho desejo de fotografar. Eu pegava a câmera da minha mãe não para registrar, mas para ver aquele rabo mais perto com a teleobjetiva.

Espanto mesmo foi quando minha avó me viu com aquela câmara e descobriu a cena que fitava. Conversaram por dias comigo, me deram as explicações mais bizarras sobre o que estava ocorrendo e fizeram a pior coisa que podiam, aumentaram o muro.

Durante meses não mais sabia o que se passara por trás daquela parede, mas a freqüência de pessoas entrando na casa começou a diminuir e Seu Toninho passou a chegar mais cedo no lar. Seu semblante estava quase sempre negro e não mais me cumprimentava com alegria. Da rua eu nunca mais tinha visto o vaso na janela.

Em um domingo chuvoso, estranhei não vê-lá na escola dominical e fiquei intrigado quando retornei para casa. Da rua pude visualizar o vaso de Dona Magá na janela sem flor alguma. Havia um tom estranho no ar, uma chuva e um sol brigando por espaço. A água caia e rapidamente retornava aos céus em meio a uma fumaça de condensação que dançava com o asfalto. Tudo era amarelo naquele dia.

Já em casa, consegui uma cadeira de cozinha e alguns livros na sala. Fiz uma escada improvisada e consegui ver com muito esforço o outro lado do muro. O vaso continuava na janela. Havia flores murchas espalhadas no chão do quarto e um tamanco estava virado ao contrário sobre o tapete remexido.

Vi uma sombra de qualquer coisa mover-se pelo quarto e me abaixei. Voltei a espiar o cômodo do casal e vi algumas manchas escuras na parede. A parte da cama estava difícil visualizar e era necessário que ficasse ainda mais alto. Com muito custo fiquei na ponta dos pés e me apoiei na parede dando um impulso para ficar mais alto. Vi brevemente na cama um grande embrulho com sacos de lixo preto.

No dia seguinte fui acordado pelo barulho de um helicóptero, sirenes e muitas pessoas falando. Corri para frente de casa. Vi uma multidão dividida por uma fita de contenção. Havia quatro carros de polícia, homens com câmera nas mãos e um fotógrafo que se pendurava em uma árvore para tentar fotografar a casa dos meus vizinhos.

Instantes depois uma caminhonete preta e branca com um baú esquisito estacionou em frente de casa. Os homens estavam fardados de preto e tinham luvas brancas nas mãos. Retiraram uma caixa branca vazia e cumprida da traseira do veículo e levaram para dentro da casa. Voltaram com o embrulho feito com sacos de lixo preto dentro da caixa branca. Minha avó insistia para que eu entrasse.

Na segunda o jornal Notícias Populares estampava na capa a manchete com foto e tudo mais, o telejornal Aqui & Agora mostrava o interior da casa com Gil Gomes narrando. Dona Magá estava grávida de três meses e fora morta por seu Toninho com 42 tesouradas. Alguém contou sobre o caso e ele deixou de trabalhar em um dos dias para ficar de campana na esquina de baixo. Ele não foi encontrado e estava desaparecido com o retrato divulgado na TV.

Até hoje não mais soubemos do Seu Toninho e desde então nunca mais olhei o outro lado do muro.

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